Foram já apurados os vencedores do Concurso "Faça lá um poema"!
Ensino Básico: Marta Amaral, 7.º E
Catástrofe Poética
Tinha rosto seco,
Cabelos prateados,
Olhos sem cor
E dedos deformados.
Falo de um velho poeta
Na sua solidão submerso,
Que para não se sentir só,
Arranjou a companhia
Na beleza de um verso.
Com suas mãos disformes,
Pegou numa tosca pena,
E mergulhou-a no tinteiro
Onde uma espessa tinta se agitava.
A pena lacrimejou,
E o delicado papel sujou
Mas isso não era problema,
Inclinou-se sobre a folha suja
E escreveu o seguinte poema:
“Penumbra e solidão,
Abismo e sofrimento,
Abrigo-me nos vossos braços
Ó Senhor que me isola do Mundo,
Dai-me força para existir,
Não me sinto um ser com vida,
Tenho frio e sinto medo.”
E nisto, a pena cai,
Nisto, a solidão ri-se
“Já não sei escrever poesia”
O velho poeta disse.
“Onde estão as bonitas rimas
Que eu costumava inventar?
Onde está a alegria
Com que eu me punha a pensar
No poema que escreveria
Antes de me ir deitar?”
Pasmado e imóvel,
Sentindo-se um miserável ser,
O poeta engoliu em seco,
Sem se lhe tirar da ideia
Que já não sabia escrever.
“Para um texto se dizer poema,
Precisa de ter algo mais,
Por exemplo, belas rimas,
Um pingo de sentido,
Uma base de sentimentos,
Como tristeza e amor,
E muitas, muitas vogais.”
Tudo isto era disparate,
E teimosia do velho poeta,
Pois jamais houvera alguém,
Neste mundo e mais além,
Que escrevesse com tal beleza,
Tal correcção e subtileza.
Lamentou até se cansar,
Que já não sabia rimar.
Mas a sua mão deformada,
Segurando a pena “entintada”
Muitos de hoje havia de encantar.
Tal alarido fez,
Que até parecia uma catástrofe
Ter escrito um poema,
Sem rima e sem sentido,
Que contrariava essas tais leis
Que impedem um poeta de escrever a poesia
Sem rimar,
Sem contexto,
Sem se basear em sentimentos
E sem usar muitas vogais.
Assim seja, então!
Acho esta atitude patética,
Mas se é opinião do poeta,
E se é lei da poesia,
Então chamarei a esta poema
A Catástrofe Poética.
Ensino Secundário: Ricardo Batista, 12.º H1
Bêbados
O teu corpo é um velho vinil com imperfeições.
Vestida no veludo preto
A cantar riscos e mapas torcidos
A lavar pedaços partidos de porcelana
Entre sangue, cortes e um detergente cicatrizante.
Falas numa língua artificial
E beijas as tuas folhas com cieiro
À espera que o vermelho seja apenas uma palavra escrita.
Deixei que uma noite limasses as unhas nas minhas costas,
Orgasmo e manicura,
Fugimos do coma alcoólico e fomos um corpo alcoólico
Que de manhã eram dois corpos ressacados.