quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

AULA ABERTA

      No dia 29 de Janeiro foi apresentada uma Aula Aberta aos alunos do 12º ano de Humanidades centrada na disciplina de História leccionada pela Professora Conceição Águas. Tal como em todos os anos, o objectivo é conduzir uma reflexão conjunta através do diálogo que permita compreender alguns conceitos do léxico político contemporâneo. Assim, privilegia-se a abordagem do totalitarismo (que se enquadra no programa dos alunos), lançando mão de alguns conceitos que lhes desconhecidos. O conceito-chave mobilizado para a compreensão do nazismo foi o paradigma imunitário do filósofo italiano Roberto Esposito presente sobretudo nas suas obras Immunitas (2002) e Bíos (2004). Este filósofo que já esteve num ciclo de conferências da Culturgest consagrada à Biopolítica, é uma das vozes mais inovadoras da política actual, embora não seja muito conhecido em Portugal. Não sendo aqui o lugar de explicitação deste conceito remetemos para uma breve exposição.

Com a ajuda de um excerto do Filme de Olivier Hirschbiegel, A Queda, (Der Untergang), que ilustra os últimos momentos de Hitler no seu bunker que culminou no suicídio de vários membros nacional-socialistas, o argumento foi apresentado e perfeitamente percebido pelos alunos embora se trate de uma complexa teoria política. Por que motivo um regime votado à edificação de uma raça perfeita, à construção de uma comunidade pura e superior se entrega a um dispositivo imunitário contra os "inferiores", a ponto de os pretender exterminar totalmente? Sendo o dispositivo imunitário uma normalização higiénico-sanitária de âmbito médico contra uma enfermidade contagiosa, que providencie uma autoprotecção da comunidade (basta lembrar por exemplo a barreira «imunitária» contra o fluxo imigratório nas nossas sociedades), a verdade é que no caso do nazismo essa protecção excessiva da comunidade se virou contra ela própria. A metáfora aqui presente é que uma defesa da vida para além de um certo limiar acarreta a própria negação da vida (como no caso das doenças auto-imunes). Elevar a protecção contra o risco implicou no nazismo uma protecção negativa que acabou por se transformar no seu oposto. Como afirma Esposito: «Certamente que os sistemas imunitários são necessários, nenhum corpo social poderia evitá-lo, mas quando crescem desmesuradamente acabam por conduzir à completa explosão ou implosão do organismo.» (Termini della política. Communità, Immunità, Biopolítica). Podemos ler os acontecimentos do 11 de Setembro à luz de uma excesso imunitário por parte do integrismo islâmico? Esta será talvez matéria para uma próxima sessão...
José Caselas

AVALIAÇÃO DA SESSÃO:


1 comentário:

Anónimo disse...

Foi uma forma diferente de explorar o conteúdo programático do 12º, abordando novas temáticas e conceitos. Foi interessante a forma como foi apresentado e o excerto do filme que o professor passou.
O conceito era complicado mas acho que todos conseguiram perceber.