sábado, 21 de março de 2009


Ainda a propósito do MATRIX e também do DIA MUNDIAL DA POESIA, que se assinala hoje, 21 de Março:

um poema da polaca WISLAWA SZYMBORSKA, pémio Nobel da literatura em 1996
Talvez tudo isto
Talvez tudo isto
se passe num laboratório?
Debaixo de uma lâmpada de dia,
à noite debaixo de biliões?

Talvez sejamos gerações experimentais?
Despejados de recipiente em recipiente,
agitados nas retortas,
observados por algo mais que o olhar,
um a um
enfim seguros na ponta das pincetas?

Talvez de outro modo:
nenhuma intervenção?
As mudanças vão ocorrendo por si
de acordo com o plano?
A agulha de registo desenha devagar
os ziguezagues previstos?

Talvez até agora nada de interessante haja em nós?
Os monitores de controlo raramente são ligados?
Só quando há guerra e grande de preferência,
alguns voos para além deste torrão,
migrações importantes do ponto A ao B?

Talvez pelo contrário:
lá apreciem somente em episódios?
Eis no grande écran uma pequenita
a coser um botão na sua manga.

Apitam os sensores,
acorre o pessoal.
Que espécime é este
de coraçãozito a bater no meio!
Que graciosa atenção
ao enfiar da linha na agulha!
Alguém entusiasmado grita:
Chamem o Chefe!
Ele que venha ver com os próprios olhos.

Wislawa Szymborska (tradução de Júlio Sousa Gomes)

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