terça-feira, 10 de março de 2009

Sobre MATRIX

O Universo simulado I

«Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas um certo génio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que pusesse toda a sua indústria em me enganar. Vou ditar que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons, e todas as coisas exteriores não são mais que ilusões de sonhos com que ele arma ciladas à minha credulidade. Vou considerar-me a mim próprio como não tendo mãos, não tendo olhos, nem carne, nem sangue, nem sentidos, mas crendo falsamente possuir tudo isto. Obstinadamente, vou permanecer agarrado a este pensamento e, se por este meio não está no meu poder conhecer algo verdadeiro, pelo menos está em meu poder que me guarde com firmeza de dar assentimento ao falso bem como ao que aquele enganador, por mais poderoso, por mais astuto, me possa impor. Mas isto é uma empresa laboriosa, e uma certa preguiça reconduz-me ao modo habitual de viver. Como um cativo que frui em sonhos uma liberdade imaginária, quando mais tarde começa a desconfiar que dormia teme que o acordem e conspira negligentemente com estas agradáveis ilusões, espontaneamente recaio nas opiniões antigas e receio acordar.»
Descartes, Meditações Sobre a Filosofia Primeira (Primeira Meditação)

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«Não devemos hesitar em levar Matrix a sério: estaremos, eu que escrevo estas linhas e tu que as lês, actualmente ligados à Matrix descrita por Morfeu? Três hipóteses são possíveis:

(H1) Não estamos na Matriz, visto que se estivéssemos, não o poderíamos saber assim tão facilmente. Nesse caso, ou a) Matrix é um simples filme de ficção científica para jovens adeptos dos jogos vídeo, ou b) Matrix poderia ser uma advertência e até mesmo uma premonição, que nos previne que a humanidade corre o risco de ficar prisioneira, daqui a dois séculos, de uma simulação do mundo dos finais do século vinte, no qual ainda vivemos actualmente.

(H2) Nós estamos na Matriz, mas as máquinas que a criaram já não a controlam e não conseguem impedir que os rebeldes – máquinas ou humanos – divulguem no interior da Matriz o filme Matrix e revelar assim a verdade à humanidade. Podemos então pensar que esta vai em breve ser libertada da Matriz de uma maneira ou de outra.

(H3) Nós estamos na Matriz, mas esta é tão perfeita que nos recusamos a acreditar na sua existência; tomamos o filme Matrix por uma obra de ficção científica, embora ele descreva a nossa situação real.»
T. Bénatouïl, «Sommes-nous dans la Matrice?» in Matrix, machine philosophique, Ellipses, p. 110

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