Tecnologias do Oriente e do Ocidente
a propósito do Matrix
Alice Santos
Embora não seja ainda um paradigma tornado senso comum, a física quântica coincide em muitos aspectos com ideias orientais milenares acerca da estrutura do universo: a mente (sujeito) não é uma entidade separada do mundo (objecto) e aquilo que pensávamos ser matéria inerte é ( e sempre foi para algumas escolas espirituais do Oriente) um imenso mar de energia no qual as formas diferenciadas aparecem e desaparecem. Para a teoria da relatividade, o espaço e o tempo são construções da mente. Nunca como hoje as bases metafísicas da ciência estiveram tão consistentemente lançadas. A proposta da mecânica quântica vem contrariar um materialismo técnológico de endeusamento de uma razão que acaba no sofrimento da separatividade e falta de sabedoria ( produtos da física dualista newtoniana). Por outro lado, a proposta da física quântica reúne as condições para a consumação de um encontro profícuo com saberes milenares ou o que tem sido designado por tecnologia psicoespiritual.
As pessoas, concebidas como entidades isoladas, acorrentadas ao sofrimento, doença, medo e morte será fruto de ilusão ou de realidade? Como realizar então a busca de liberdade e de felicidade comuns à humanidade inteira? Para a física quântica e escolas de Hatha-Yoga (que nasceram do Tantrismo), a entidade física isolada não passa de uma ilusão; o chamado mundo objectivo é uma projecção da mente. A imagem do Hinduísmo clássico de Shiva Natarâja ou “Senhor da Dança” que, ao dançar, cria perpetuamente os ritmos do universo, os ciclos de criação e de destruição, a própria realidade, fascinou profundamente vários físicos quânticos.
Mas a realização suprema, conhecida como libertação ou iluminação, é, em última instância inefável: está para além do discurso. Por isso, quando o adepto realizou o Si Mesmo e quer falar sobre a sua realização ou estado de unicidade e individualidade, tem de recorrer a metáforas, imagens e alegorias. Para nós o filme Matrix é uma excelente alegoria à viagem de autoconhecimeto e de autotranscendência da unicidade corpo-mente do ser humano em busca da liberdade. No filme, a mente gera mundos, transportando-se para espaços e tempos diferenciados, fruto da sua própria concepção; o corpo é divinizado em templos dedicados à dança e ao amor, em rituais afirmativos da libertação no mundo e não do mundo.
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